quinta-feira, 7 de outubro de 2010

sábado, 29 de maio de 2010

DESCER A ESPÍRITO SANTO

O poeta Rômulo Paes deixou a célebre frase “Minha vida é esta, subir Bahia, descer Floresta!”
No Dezoito de Maio, entre tensões e expectativas, o frio na barriga antes de pisar na Avenida, tem emoções e sentimentos que nos aproximam e nos faz coletivo pelo sentido que a experiência provoca.
Seguir a Afonso Pena até a Álvares Cabral para subir a Augusto de Lima, parece uma eternidade. Entre o riso, o jogo, passando pelos cruzamentos, o cuidado com os carros, entre um aceno e outro, segue o cortejo.
Hora da descida, todo santo ajuda, até o São Doidão!
E entramos no percurso mais esperado da manifestação: Descer a Espírito Santo!
O som reverbera por causa dos prédios, o corpo vai sem muito esforço e fica fácil cantar e ver melhor quem está por perto. Os olhos festejam a chegada à esquina com a Goitacazes do lado esquerdo.
Lá está a nossa fã número um, a senhorinha a jogar beijos, dançando com a gente numa das janelas do primeiro andar. Nos últimos anos, sempre ali esteve e nesse 2010, além dos beijos generosos, voaram papéis coloridos. E quem está no asfalto retribui emocionado, pois afinal, chegou o dia de se ver mais uma vez!
Enche os olhos ver as crianças na grade da Escola Delfim Moreira. Olhares atentos, acenos tímidos, a aproximação e a entrega de um panfleto! E a gente se pergunta: O quer será que ele vai contar em casa? Aqueles meninos e nós, nunca mais seremos os mesmo! Agora somos encantados!
Não tem como não sentir o prédio da Tupis, número 149, uma festa! Como chove naquele pedacinho de mundo de janelas cheias de gente nos 17 andares!!! Papéis e papéis e mais papéis...
E logo adiante já se pode dimensionar o tamanho do evento ao ver as primeiras alas lá embaixo, retornando á Afonso Pena ou o contrário: Quem já chegou á Afonso Pena, fica meio perplexo ao olhar lá em cima na Espírito Santo. Nesse ponto exato do desfile, dá prá senti r o tanto que essa coisa de gente andando junta, sonhando junta e fazendo coisa junta tem força e pode transformar!
Descer a Espírito Santo no Dezoito de Maio é tudo de belo!

Marta Soares

terça-feira, 25 de maio de 2010

Olha o 18 de Maio aí gente!

..."parece uma bomba atômica"

Tec Tec Tec Tectônica

18 MAIO 2010 - IMAGENS DO DESFILE


Ao som de TEC TEC TEC usuários, familiares, trabalhadores, estudantes e diversas outras pessoas marcharam e pularam o carnaval manifestação do 18 de Maio - Dia Nacional da Luta Antimanicomial. A Afonso Pena tremeu e balançou com o 18 de MAIO. Seguem belas imagens que registraram esse momento.

AQUI O DESFILE DA ESCOLA LIBERDADE AINDA QUE TAN TAN DE 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Nota Para Imprensa
Para acompanhar o Dezoito de Maio de 2010
http://antimanicomialbh.blogspot.com


Venha conferir, divertir-se e solidarizar-se com a gente.
Pelo 13º ano consecutivo, no 18 de maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial, os mais de três mil foliões e os três trios elétricos da “Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tan Tan” vão novamente transformar as ruas do centro de BH na passarela do samba, da arte, da delicadeza e da solidariedade.
Combinando cores, melodia e sentidos, vamos celebrar a vida com vivas ao que nos aviva: a luta por uma sociedade justa, igualitária, diversa, plural, onde caiba a diferença- a sociedade sem manicômios. Esse ano levando como enredo a“SOLIDARIEDADE HÁ em TI, HÁ em Mim”, tocados pelos abalos provocados pelas placas tectônicas que sacudiram nossa acomodação ao nos deixar cara a cara com uma realidade absurda e banalizada: o Haiti.
A mesma acomodação da sociedade que sempre conviveu com os hospícios, sem fazer uma questão.
E qual placas tectônicas, o movimento da luta antimanicomial produz terremotos na ditadura da razão. Propondo outros modos de vida, sem poupar ousadias para reinventa-la.
Ali, aqui, em ti e em mim. Onde estiver a vida há de estar também a solidariedade.

Enredo de 2010: “SOLIDARIEDADE HÁ em TI, HÁ em mim.
Samba Enredo: TEC TEC TEC (Criação coletiva – Centro de Convivência São Paulo)
Componetes: mais de três mil
Trios Elétricos: 3 (três)
Consentração: Praça 7 (13:30horas) - Trajeto: Av.: Afonso Pena, João Pinheiro, Augusto de Lima, Rua Espirito Santo, Av. Afonso Pena - Dispersão: Praça 7 (16 horas)
Alas: 6 (seis)
Ala da Solidariedade: “Me empresta tudo que resta que lhe devolvo sonhos de sobra”.
Ala da experiência da loucura: “Libertar-te da dor, encontrar-te com a cor”
Ala das crianças e dos adolescentes: “Todas elas cabem no nosso balão”
Ala dos movimentos sociais: “O balanço da loucura aterremota a razão em sua ditadura.”
Ala da denúncia: “Que mentira é essa? Quem me tira dessa?”
Ala das conquistas da Luta Antimanicomial: “Basaglia viu e anunciou, Bispo luziu quando endoidou”


Outras informações: http://antimanicomialbh.blogspot.com

Letra Samba Enredo para o 18 de MAIO 2010 BH

TEC TEC TEC
(Criação Coletiva do CCSP)


Tec Tec Tec Tectônica
Parece uma bomba atômica
Todo abalo à sociedade
Que vive sem a solidariedade

O Haiti também é aqui
Há em ti, há em mim a solidariedade
Com a Loucura contagiando essa cidade
A Liberdade ainda que Tan Tan
Tira da dor a felicidade

Nossa arte tá na rua
De mãos dadas à Loucura
Ela é minha e também sua
Aterremota a Ditadura
Então venha nessa entrar no nosso balão
Traga com você a crianaça do seu coração

REFRÃO (tec tec tec)

Basaglia viu e também anunciou
O Bispo pirou e sua arte iluminou
Salve o terremoto a favor da liberdade
Cantemos com toda energia
O Manicômio vá pra rima que o pariu

REFRÃO (tec tec tec)

Nem todo remédio cura nem toda recxeita é pura
Vamos quebrar a mutreta da indústria tarja preta
Descer a marreta, chutar o pau da barraca
Quero ver agora quem fecha a minha matraca

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Notícias do concurso de samba de enredo da Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tan Tan para o Dezoito de Maio 2010.

Aconteceu neste sábado, 17 de abril, o VI concurso de samba de enredo da Escola de Samba Liberdade Ainda que Tan Tan e também a escolha da rainha e princesa da bateria para o Dezoito de Maio desse ano.

Estiveram presentes, cerca de 500 pessoas, entre convidados, usuários, familiares e trabalhadores dos serviços, moradores dos SRTs (serviços residenciais terapêuticos), produtores culturais, estudantes, moradores do em torno do Parque Lagoa do Nado, visitantes.

A comissão de jurados, foi composta por um poeta e sociólogo, o Ricardo Evangelista, pelo ator e diretor de teatro, o Glicério, Tiene que é a porta-bandeira da Escola de samba Cidade Jardim, Valdênio, veterano nesta comissão, é componente do grupo de samba de raiz denominado Zé da Guiomar, e Airton Meireles, o representante do Movimento da Luta Antimanicomial, compositor de 5 sambas que abrilhantaram desfiles anteriores do Dezoito de Maio, é membro da ASUSSAM(Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais).

Para o acompanhamento dos sambas os músicos Rogério Pagé (cavaquinho), Jorge Bonfá (violão ) e os intérpretes Nonato do Samba e Valdir Alquimia, tiveram como parceira a bateria da Escola de Samba Cidade Jardim.

Fizeram bonito, dentre as concorrentes, os municípios de Betim, Brumadinho e Ipatinga, que vieram de longe para somar alegria e talento.
Outro destaque são para as apresentações dos sambas produzidos coletivamente nos CERSAMs Leste, Oeste e Barreiro.

A música vencedora do concurso foi a marcha de enredo TEC, TEC, TEC, composição coletiva do Centro de Convivência São Paulo.
A rainha de bateria eleita Roseli Rodrigues Lapa, é usuária do Centro de Convivência Providência e a princesa, Daniele de Carvalho Pinho, faz parte do projeto Arte da Saúde da Regional Leste.

A construção segue em frente com a gravação do samba escolhido e com a produção das fantasias e adereços nos nove “barracões” da Liberdade.

E há lugar ainda prá quem quiser entrar na cena e na festa da cidadania!!

terça-feira, 23 de março de 2010

Concurso do Samba de Enredo & Concurso da Rainha e Princesa da Bateria

18 de Maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Minas Gerais – Belo Horizonte – 2010


Critérios para a comissão julgadora – Samba de Enredo

Os sambas serão avaliados por uma comissão julgadora composta por cinco integrantes, sendo quatro deles pessoas ligadas à movimentos artísticos e musicais e uma pessoa ligada ao movimento da luta antimanicomial, indicada pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental.
Os jurados seguirão o seguinte roteiro de avaliação:

Critérios:

1. A música que mais se aproxima do tema proposto com originalidade
2. Harmonia musical
3. Melodia que contagia (avaliar o quanto que o samba contagia o público)


• Após a apuração e fechamento das notas finais, quem obtiver o maior número de pontos somados todos os jurados, será o ganhador;
• Em caso de empate após a soma de todos os jurados, o critério de desempate será o de n° 3 (quem obtiver a maior nota neste critério);
• Caso ainda haja empate, será por aclamação do público.


Critérios para a comissão julgadora – Rainha e Princesa da Bateria

As candidatas serão avaliadas pela mesma comissão julgadora do samba. Os jurados seguirão o seguinte roteiro de avaliação:

1. Simpatia
2. Evolução (ocupação do espaço, performance e técnica, ou seja, samba no pé!);
3. Entrevista

Observações:

• As candidatas com menos de 18 anos concorrerão a Princesa da Bateria e as maiores de 18 anos concorrerão a Rainha da Bateria;
• Cada critério valerá de 0 a 10 pontos;
• Após a apuração e fechamento das notas finais, quem obtiver o maior número de pontos em cada categoria, somados todos os jurados, serão eleitas;
• Caso ainda haja empate, será por aclamação do público.

quarta-feira, 10 de março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

18 de Maio

Agenda Concurso de Samba de Enredo 18 de Maio 2010.

Prezados,
A Comissão Organizadora do Concurso de Samba de Enredo para o 18 de Maio de 2010, cumprindo as tarefas as quais se propôs e lhe foram confiadas, apresenta os seguintes informes:

1. O evento para a escolha do samba para manifestação político-cultural pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial será no dia 17 de abril a partir das 9:00hs da manhã.
2. O local será o Centro Cultural Parque Lagoa do Nado (a confirmar).
3. Data limite para a entrega dos sambas concorrentes será até o dia 25 de março de 2010 às 17:00hs, no Centro de Convivência São Paulo, que fica na Rua Aiuruoca, nº 501 - bairro São Paulo- BH.
4. O material produzido (música e letra) deverá estar gravado (fita cassete ou CD) junto com 5 cópias da letra impressa e também de forma digitalizada em disquete ou CD.
5. A distribuição dos CDs com a gravação do samba vencedor do concurso será a partir do dia 28 de abril.
6. A escolha do samba será realizada por uma Comissão de jurados compostas por 4 músicos, artistas e produtores culturais as cidade e por 1 representante do Fórum Mineiro de Saúde Mental ou da ASUSSAM.
7. Os critérios para a escolha do samba serão divulgados o mais breve possível.
A escolha da rainha e princesa da bateria acontecerá na mesma ocasião.
A data e o local para as inscrições das passistas e os critérios para a eleição da rainha e princesa serão divulgados posteriormente.

Atenciosamente,
Comissão Organizadora do 18 de maio 2010

BH, 07 de março de 2010.

18 DE MAIO – Dia Nacional da Luta Antimanicomial - 2010

Muita história pra contar
E passaram voando os quase 365 dias depois do último Dezoito de Maio quando, mais uma vez, com graça e beleza, o movimento antimanicomial de Minas Gerais marcou o ápice da luta Por uma Sociedade sem Manicômios.
Em meio às manifestações do “dezoitão” de 2009, num evento no Senado, em Brasília, correntes conservadoras pediram e propuseram o retrocesso dos avanços da Reforma Psiquiátrica, considerando apenas as dificuldades, sem levar em conta as nossas conquistas e os avanços históricos da política pública de saúde mental no país.
E prá balançar as estruturas, textos do Ferreira Goulart, através de veículos de comunicação de circulação nacional, colocaram em xeque o que construímos e vivenciamos todos os dias nos serviços substitutivos. Críticas que destituíam de maneira leviana anos de conquistas de usuários, familiares, trabalhadores e militantes.
A nossa resposta veio à altura. Partimos em defesa do que acreditamos. O fizemos através dos blogs, e-mails e das cartas não publicadas pela mídia. E fomos mais longe. Minas levou a Brasília 23 ônibus para a “Marcha dos Usuários por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial”. Retomamos os princípios da luta, a mobilização pelo país afora e o protagonismo dos usuários, herdeiros daquilo que começou com os especialistas, seus porta-vozes, até a construção da condição para que esses mesmos usuários-cidadãos pudessem falar de si e por si mesmos.
Essa é a luta por delicadeza que fazemos, uma luta que não é fácil, e muito menos simples. É vanguardeira e corajosa, porque desafia o conforto dos saberes, balança a acomodação dos conservadores e propõe uma outra sociedade, aquela onde não existam manicômios simbólicos, mentais, virtuais e tampouco os concretos, feitos de pedra e cimento.
E 2010 promete! A IV Conferência Nacional de Saúde Mental, uma das reivindicações da Marcha a Brasília, acontecerá, ainda no 1º semestre, em meio à construção e a realização do Dezoito de Maio. Por isso iniciamos mais cedo. E a manifestação pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial do ano de 2010 em Belo Horizonte já tem forma e conteúdo, construídos democrática e coletivamente pelos membros da comissão organizadora. Aqui o tom é a diversidade e as cores são as da liberdade de se expressar em cena, dizer o que se sente, desconsertando o previsível.
Esquentando os tamborins, vamos colocar nosso bloco na rua. Já temos a data para a realização dos concursos de samba de enredo e escolha da rainha de bateria. Serão no dia 17 de abril. Já está disparado o processo! Lembramos também que é chegada a hora de cada serviço, grupo de usuários, parceiros de militância, e todos que como nós animam este “18 de maio”, escolher em qual ala desejam ficar.
E pra iniciar o processo criativo, estimular as pesquisas, convidar os compositores e animar as alas, preparamos este breve texto que fala um pouquinho do processo de concepção do desfile deste ano. Boa leitura a todos(as)!
Há em ti, Há em mim
Milton Santos foi um brilhante geógrafo, intelectual e pensador das grandes questões da humanidade. Ele era baiano, de lá saiu e, contra todas as previsões da dura realidade de nosso país, dado ser ele negro e nordestino, desbravou o mundo, inovou o pensamento da geografia e das próprias ciências humanas, e, principalmente nos fez a todos um convite ao pensamento crítico sobre a nossa realidade. Em uma de suas últimas entrevistas diz que escolheu a geografia por sua opção pelo movimento e por sua paixão pela história e seus processos contraditórios. Milton Santos era um sujeito que sabia que nada se move por acaso e que não somos barco sem leme, soltos ao sabor do vento.
Das temáticas que tratou, uma que tomamos aqui emprestada é a idéia de território. Milton tratou os territórios como a matriz da vida social, econômica e política dos povos. Quanto olhava para um lugar não via apenas a geografia das formações geológicas e topográficas, das faunas e floras, do clima e dos fenômenos naturais. Via também sobre este lugar um povo e sua história, suas contradições, suas disputas, as relações de poder, via aqueles que oprimem e aqueles que lutam em sinal de resistência.
A construção do “18 de maio” começou neste ano de 2010 com uma bela reflexão sobre nossa realidade, uma análise de nossa conjuntura. Em nosso primeiro encontro, dia 20 de janeiro de 2010, estarrecidos estávamos todos com uma tragédia em um país caribenho, latino-americano, o Haiti, em que mais de 300 mil pessoas morreram, além de toda a devastação ocorrida e o desespero dos sobreviventes. Falávamos acometidos por todo o horror deste terremoto noticiado 24 horas por todos os veículos de informação a que temos acesso habitualmente. Nas televisões, rádios, jornais, internet, cenas de desespero de um país em ruínas. E ficamos todos a nos sentir meio impotentes diante do movimento natural da terra, que não controlamos, movimento de placas tectônicas que o tempo todo se esbarram, soltas que estão no imenso mar de lava das regiões mais centrais do planeta.
Mas como aprendemos geografia com Milton Santos, sabemos que o abalo sísmico atingiu um território, o Haitiano, seu povo, sua cultura, sua história. Mas que país é este e o que ele nos faz pensar? O que causa em nós, tão próximos e tão distantes deste território? E assim como Milton Santos, novamente, nos interessamos por tudo aquilo que é movimento. O movimentar das placas tectônicas não nos deixou boquiabertos diante do imponderável. Nos fez lembrar que tudo está em movimento e tais quais placas que se atracam e que causam terremotos é feito o curso da história. Muitas vezes algo tem que se chocar para que uma nova realidade se produza. Tomamos o movimento das placas tectônicas e os abalos que elas produzem como uma metáfora de toda contradição que se produz no encontro das diferentes formas de se entender a humanidade e a civilização. E que depende fundamentalmente de nós decidirmos o que faremos com os destroços que ficam destes terremotos.
Ficou exposta a insensibilidade dos governos no mundo globalizado. Um terremoto teve que acontecer no Haiti para “balançar” a sociedade mundial e que a mesma demonstrasse um pouco de solidariedade a um povo que já se encontrava de joelhos. Neste momento estão prostrados e ainda assim lutam pela vida. E o que neste momento se faz mais necessário é a solidariedade e o cuidado de um humano com o outro. As bases em que se organiza a sociedade humana têm aprofundado as desigualdades e apenas um chamado à união entre os homens poderá alterar esta realidade.
As diversas reações que esta tragédia provoca nos fazem pensar no sentido desta solidariedade. A dor do outro que também me dói, aquilo que existe em mim como gérmen de humanidade e de coletividade. Em meio às diversas manifestações de piedade e indulgências, aparece o imperativo da solidariedade. Ser solidário ao Haiti é tratá-lo não como um pedaço de coisa que desmoronou, mas como um país que tem história, que há anos é ocupado e expropriado, como tantos outros Haitis mundo afora.
Na luta por uma sociedade sem manicômios, muitos são os nossos terremotos, muitas são as nossas lutas de resistência. Somos um movimento solidário, buscamos o direito de existir em liberdade, ainda que tam tam! E neste ano de 2010 reafirmaremos a solidariedade como nossa bandeira. Só poderemos ter um mundo sem manicômios se entendermos que esta é uma luta de todos e que também se articula com tantas outras lutas. Apoiamos-nos e nos reconhecemos uns nos outros.
Solidariedade, um imperativo humano. Não temos tempo a perder, sejamos solidários já! Resgatemos todas as lutas dos povos contra aquilo que os oprime. Sejamos solidários com um simples gesto, lutar ao lado de quem resiste. A solidariedade, enquanto uma novíssima forma de organizar as relações, os coletivos, a produção, a economia. Apostamos no ser humano. Lembramos a todos: Solidariedade:Há em ti, há em mim.

18 de maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Tema: Solidariedade: Há em ti, Há em mim
• 1ª ala (Comissão de Frente) – Ala da Solidariedade: “Me empresta tudo que resta que lhe devolvo sonhos de sobra”
A solidariedade é o nosso eixo condutor para conceber o “18 de maio” - 2010. E abriremos o desfile falando justamente sobre esta idéia. A frase-tema surge ao resgatarmos um belo dizer que figurou em um cartaz de divulgação do “18 de maio” de anos anteriores. Ela é precisa ao definir, com delicada poesia, o que entendemos por solidariedade. Podemos imaginar a possibilidade de um encontro quando aquele que pode ajudar pede como empréstimo os fiapos de esperança, o pouco ou quase nada que o outro ainda tem, para devolver sonhos e perspectivas para seguirem em frente, ambos agora agigantados pelo que trocaram entre si.
Esta será uma ala que fará a todos o convite a isto que, não nos resta dúvida, é um imperativo humano. É o momento de convidar a cidade a participar deste nosso chamado à união e solidariedade para transformar este cenário de exclusão, que atinge a todos nós, loucos ou não. E dizer que só existe solidariedade em liberdade: “a liberdade não pira, transpira, para assim podermos respirar os ares do respeito, da dignidade, do convívio com a diferença, da circulação e intervenção na cidade”.

• 2ª ala – Ala da experiência da loucura: “Libertar-te da dor, encontrar-te com a cor”
A ala da loucura já é tradição nos desfiles da escola de samba Liberdade Ainda que Tam Tam.
Este ano, além de explorar toda a experiência dos delírios e alucinações, seu lugar para os sujeitos e acolhimento necessário para as singularidades, queremos explorar as relações desta experiência da loucura nos encontros com a arte.
Longe de querermos cair nos clichês do "artista doidão" ou mesmo da "arte-passatempo", apontamos a arte como o encontro do ser humano com a possibilidade de expressão, de transformação de si e do mundo.
Pensamos aqui uma homenagem e uma interlocução entre a experiência da loucura, que é inerente à condição humana, e a Semana da Arte Moderna de 1922, quando através da liberdade, marcou-se o fim das regras em um novo conceito estético. Esse movimento possibilitou a criatividade não subordinada às regras; com ele foi possível dizer o que pensamos e pensar no que dizemos. A obra se manifesta pela singularidade e não pela semelhança a modelos prévios, permitindo assim o extravasamento da subjetividade.
Outro ponto importante na construção desta ala é o desejo deste coletivo há um bom tempo de levar de alguma maneira para o desfile, as obras dos usuários dos serviços de saúde mental. Valorizar o que se produz nos centros de convivência, grupos, oficinas, CERSAMs, CAPS, NAPS, associações de usuários, etc.

• 3ª ala – Ala das crianças e dos adolescentes: “Todas elas cabem no nosso balão”
Falar de solidariedade para crianças e adolescentes nos trouxe a uma discussão sobre a própria condição em que eles se encontram em nossa sociedade. Vivemos um mundo em que a competição entre os seres humanos tornou-se regra, e este mantra é levado ao limite de introduzirem esta lógica para todos desde os primeiros anos de todos nós. Desde a cobrança por desempenho escolar, por habilidades esportivas extraordinárias, a preparação para o vestibular que já se inicia antes mesmo da alfabetização, as agendas de uma vida adulta, são todos exemplos de como se cobra que as crianças e adolescentes se adequem a um padrão burguês de estilo de vida. E junto disso, quem não cabe neste rol de exigências, seja por que enlouquecem, seja por que são pobres, ou negros, ou gordos, ou lentos, ou hiperativos, ou por possuírem qualquer outro rótulo, acabam excluídos do processo e condenados a periferia da sociedade.
São os que não deram certo. Será? Qual é a responsabilidade todos nós para virar esse jogo? Como trazer para a cena a diferença como virtude e a solidariedade como valor? Então, caminhamos pelas cantigas de roda, pela canção infantil, para buscar uma simpática afirmação do Balão Mágico: “Todas elas cabem no nosso balão”. Essa frase vem reafirmar que toda criança tem direito à infância enquanto um tempo para experimentar, criar, fantasiar, brincar e ser feliz. Todas têm direito a uma vida digna, direito a se desenvolver plenamente e todas cabem no mundo com suas diferenças. Queremos uma sociedade que cuide de suas crianças, que construa os valores da solidariedade a partir da educação, do cuidado e do afeto: Todas elas cabem no nosso balão.

• 4ª ala – Ala dos movimentos sociais: “O balanço da loucura aterremota a ditadura da razão”
Os movimentos sociais são entendidos aqui como as placas tectônicas que se movimentam e nesse balanço é possível desconstruir algo para provocar o novo. Frutos de uma vontade coletiva, os movimentos sociais são ações de caráter sociopolítico, e na luta antimanicomial eles têm o importante papel na construção de outra sociabilidade.
Com o título “O balanço da loucura aterremota a ditadura da razão”, os movimentos sociais representam aquilo que com força e energia abalam as estruturas estabelecidas, denunciando, protestando e lutando por um mundo diferente. Muitas há que se provocar terremotos nas estruturas e fazer de seu movimento algo transformador. Os movimentos representam a resistência em favor da vida ao longo da história. São tenazes em seus objetivos e solidários na sua construção. Apesar de muitas vezes duramente atacados, covardemente perseguidos, resistem na sua luta por um mundo melhor para todos.
É o nosso convite para que se juntem a nós todos aqueles com os quais construímos laços de solidariedade. As comunidades de resistência, as mulheres, aos negros, aos sem-terra, aos estudantes, aos que lutam pelo direito a moradia, etc. O nosso balanço é o movimento da vida que se contrapõem ao movimento da morte que o capitalismo produz. Nossa luta é pelo imperativo da solidariedade.

• 5ª ala – Ala da denúncia: “Que mentira é essa? Quem me tira dessa?”
Denunciar as mentiras travestidas de verdade, este é o fio condutor desta ala. As discussões sobre este tema surgiram a partir de uma análise crítica de usuários e trabalhadores ao projeto de lei do ato médico, que pretende fixar em lei que ficará ao médico a posição de decidir sobre todos os rumos de um tratamento de saúde. A alguns olhares menos atentos, passa desapercebido o retrocesso que tal lei poderia causar a bandeiras importantíssimas defendidas pelos que lutam por uma saúde integral para todos e por uma sociedade sem manicômios. Defendemos a integralidade como princípio do SUS e condição para um tratamento que respeite o vínculo e multiplicidade dos saberes.
Mas não será esta, nossa única denúncia. Tantas são elas: "Seja feliz comprando Xiisss", ou que hospício é um bom lugar, cheio de paz para morar. A mentira de que a gente só vale pelo que tem; que psicocirurgia, eletrochoque e a hipermedicalização em moda hoje, só fazem mal ao bolso de quem paga, mas que vale o investimento. A mentira de que a vida humana resume-se a questão biológica. Denunciar a falácia de que os governos estão caminhando para a construção da paz no mundo e que estão deveras preocupados com a pobreza da grande maioria, e que irão, de verdade, implementar políticas de preservação ambiental. Desmascarar a fantasia colorida da eterna juventude e também os atos interesseiros que querem passar por solidariedade.
• 6ª ala – Ala das conquistas da Luta Antimanicomial: “Basaglia viu e anunciou, Bispo luziu quando endoidou”
E para o grand finalle, a última ala contará a história da Reforma Psiquiátrica, seus avanços e desafios até os dias de hoje, começando com um feliz encontro, quando rompemos fronteiras para dialogar com a experiência mais radical até então - Trieste na Itália.
A vinda de Basaglia a Minas Gerais no 3º Congresso Mineiro de Psiquiatria quando, naquele momento, anunciou para todos nós a possibilidade de uma nova ordem no sentido da ruptura com a estrutura iatrogênica, violadora dos direitos, violenta e segregadora em sua essência: o manicômio.
A experiência de Trieste, a vinda de Basaglia ao Brasil, as denúncias da situação do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, foram um grande terremoto para nós. Fez colocar abaixo uma fachada de suposto tratamento para expor o horror que a segregação da loucura produz. E diante dos escombros, a luta antimanicomial ganha corpo e forma para dizer de sua luta.
"Basaglia viu e anunciou, Bispo luziu quando endoidou!" é o nome dessa última ala que vai dizer da conexão Brasil – Itália, cujo resultado propiciou o tom e forneceu a medida para a concepção do modelo no qual propomos a superação da escuridão dos porões da loucura.
E tomando emprestado mais um dos versos do compositor Airton Meireles, afirmamos que "Tá aí, saiu, a loucura tá nas ruas, tá na noite do Brasil!" E estaremos lá, em pleno centro da capital de Minas, para dar "mil vivas pelo que nos aviva!".

Saudações antimanicomiais!!!


Comissão Organizadora do 18 de Maio de 2010