quinta-feira, 31 de março de 2016

ESBOÇO DAS EMENTAS 18 DE MAIO 2016

ESBOÇO DAS EMENTAS 18 DE MAIO 2016



TEMA CENTRAL: ELES PASSARÃO, NÓS PASSARINHO.

“O velho mundo agoniza e o novo mundo tarda a nascer e, nesse claro-escuro irromper os monstros” A. Gramsci.

“Quando o muro separa uma ponte une
Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando.
Que medo você tem de nós, olha aí
Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo”
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
A liberdade guardiã
Abraça o dia de amanhã, olha aí

O nosso percorrer as ruas em defesa da vida em liberdade no formato de carnaval começou em 1997 Uma proposta que questiona entre o ser ou não ser um carnaval até que se formule uma manifestação do pensamento livre e crítico sobre os desmandos do poder . Já naquele ano convocamos as pessoas ao cantar para encantar BH e desde então o encantar, desfilar, organizar, comemorar, batucar, encontrar, abraçar, resistir, inspirar, sonhar, apostar, criar, bordar, enlaçar, denunciar, politizar, desfilar, contextualizar, pensar, ousar, viver e delirar viraram palavras da ação conjugadas por muitos no tempo passado, no presente do tempo e no futuro.

Este ano, a Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tan Tan evoluíra com as seguintes alas:

ALA 1 – MINHA LOUCURA VEM DE BERÇO: POR UMA SOCIEDADE SEM SILENCIUS!

Delirar no tempo hoje e delirar no tempo do amanhã se preciso ser.

Acreditar na existência dourada do sol
Mesmo que em plena boca
Nos bata o açoite contínuo da noite
Arrebentar a corrente que envolve o amanhã
Despertar as espadas
Varrer as esfinges das encruzilhadas
Todo esse tempo foi igual a dormir no navio
Sem fazer movimento
Mas tecendo o fio da água e do vento...

A tradicional ala dos delírios no nosso Dezoito de Maio é esperada como o momento transbordante da manifestação e ao longo dos anos ela tem dado conta do que lhe é confiado: Delirar ao vivo nas cores e efeitos propostos nas fantasias e adereços. E assim, colocado o desafio, topamos a invenção para arriscar a expressão do genuíno, do singular na multidão de não iguais, na roda da diversidade, de ser o possível na diferença. E vivendo a diferença em tempos de pasteurização para manter todos iguais, perfeitos, fotocópia estereotipada da vida, do pensamento, das vontades, do amor e das consciências.

Pensando nosso tempo hoje das classificações sobrepostas onde não cabe o desejo e a humanidade expostos e onde as retas não dançam as curvas do diverso e o pensamento se mantém detido dentro da caixa defendemos que fazer saúde não se resume a procedimentos, que a clínica se dá entre o ouvido e a palavra nas delicadas entrelinhas do dizer o óbvio, que ela está no sensível e não na técnica.

O sair da caixa é o convite à invenção, um convite ao palavrear traços em tons melódicos e mergulhar em cores as sensações vividas decifrando o sentido da experiência de existir.

Palavrear as flores, nomear as sombras para atravessar a poesia em versos que se dão no riso, no gesto, na dança da luta pela liberdade.Delirar é uma saída para passar a dor e para caber o amor. Delirar um mundo outro que se faça presente em cada medida justa, em cada escolha, em cada ato estético e em cada movimento que produza o novo e de novo outro movimento que ascenda nossa esperança.

Fantasias, samba, mestres e rainhas, princesas, cartaz, adereços, estandartes são os suportes para a materialização de como se imagina o inimaginável.

O Dezoito de Maio na capital mineira constrói o traçado vivo do mapa do nosso caminhar as ruas e a cidade na defesa do direito à liberdade, do direito a ter direitos para viver o que sonha, o que pensa e o que delira.


ALA 2 : VALENTES OCUPAM: MARCUS VINÍCIUS, PRESENTE!

Esta Ala trata de uma luta histórica travada por muitos homens e mulheres brasileiros que lutam cotidianamente por um Brasil justo e democrático, o Brasil que queremos.
A ditadura do pensamento liberal impõe que o futuro do país se subordine ao restrito cumprimento das regras determinadas pelos organismos internacionais, para preservar os interesses dos detentores da riqueza financeira, para fazer frente a esta ditadura o primeiro objetivo estratégico é a defesa dos direitos de cidadania, assegurados pela constituição de 1988, no entanto as forças do mercado ameaçam essas conquistas, a saúde mental do nosso país não era diferente da saúde mental das centenas de outros países e desde o momento em que o povo brasileiro saiu do período da Ditadura Militar para construir um país mais justo e igualitário, nós travamos de maneira valente e destemida uma luta pela nossa cidadania e também daqueles que a sociedade insiste em
torna-los invisíveis, as pessoas com transtornos mentais e os usuários em uso abusivo de álcool e outras drogas, ou seja, há 26 anos estamos construindo uma Reforma Psiquiátrica no Brasil visando universalizar a Cidadania Social, criar uma rede de serviços públicos e de qualidade sob os princípios da constituição da República que consagrou as bases de um sistema de proteção inspirado na universalidade da seguridade da cidadania. A luta por transformar os loucos, os drogados, os pobres, os negros, os indígenas, os ciganos, os homossexuais em cidadãos não tem sido fácil, não apenas pelas questões econômicas e políticas, mas pela falta de sensibilidade e delicadeza de homens e mulheres que insistem em dizer que existem pessoas de segunda classe, que a dignidade humana não é universal e não pertence a todos. Por isso seremos sempre valentes, ocupando aqui neste país lugares onde possamos fazer soar as nossa vozes e demonstrar para os insensíveis ditadores da lógica da razão, que existimos e que não vamos nos curvar diante dos obstáculos a nós impostos.

A construção de uma sociedade republicana democrática civilizada, passa pelo fortalecimento das instituições, dos movimentos sociais, da democratização dos meios de comunicação, pela defesa intransigente dos direitos de cidadania assegurados pela constituição federam de 1998, marco do nosso processo civilizatório nacional. Esta construção tem sido exercida ao longo desses 29 anos pelo movimento da Luta Antimanicomial, que sendo m movimento social, tem dado mostras objetivas de que trabalhar coletivamente, respeitar as diferenças, buscar construções diárias, inventar-se, ousar é que possibilita a construção de saídas para aquilo que nos parece muitas vezes não ter solução e tudo isso foi construído e é todos os dias por muitos, mas não podemos deixar de destacar um grane companheiro que com toda sua cabeça, inteligência, corpo, voz, potência nos ajudou a desbravar caminhos, a não se curvar diante daqueles que nos oprimem, nosso querido e saudoso Marcos Vinícius, que se fará sempre presente e que nos dizia que ele não era um mas muitos, pois cada um de nós devemos ser muitos, nessa construção cotidiana de um outro mundo possível.


ALA 3: NÃO ME PRENDA EM SEUS TRILHOS QUE SOU PASSARINHO
“Não me prenda em seus trilhos que sou passarinho”
“Liberdade, liberdade, para muitos felicidade,
para outros grande saudade
de entrar na dança, de cantar
de ser criança , de ter soado o apito,
agora escolhe tu tens o livre arbítrio”.
(Leonor – usuária CAPSi Contagem)
Não há produção na clínica psicossocial sem considerar as dimensões biológica, psíquica, social e a liberdade do sujeito. Se uma criança ou um adolescente apresenta algum grau de sofrimento não será possível entende-lo sem considerar esses
componentes significativos. A questão essencial é a garantia do direito da criança e adolescente e fortalecê-los na travessia para garantir sua liberdade. Ao falarem sobre si e ao se identificarem com suas próprias histórias, a criança e o adolescente vêem possibilidades de encontrar novos significados e novas formas de inserção na sociedade e na família.
Os maiores desafios para a área da saúde mental, sem dúvida, é a construção de uma política voltada para crianças e adolescentes que considere suas peculiaridades e necessidades, onde cada um pode mergulhar e descobrir novos sentidos e vivências, com um prazer renovado. Pois, apesar dos avanços, ainda existem lacunas na sociedade e no setor público que favorecem a criação e o fortalecimento de instituições totais que patologizam e medicalizam a singularidade do sujeito. Que continuemos nos trilhos da luta antimanicomial por uma clínica que focaliza ações e propostas terapêuticas que visem uma atenção integral e que respeita as questões de gênero, ciclos de vida, atenção a crise, reinserção familiar, social e cultural.
A animação brasileira “O menino e o mundo”, conta a história de uma criança que se lança no mundo atrás do seu pai, a travessia se dá inicialmente pelo trem, mas é necessário que ele saia desses trilhos para se aventurar pela cidade, pelo mundo.
Desejamos as nossas crianças forças para se aventurar pela vida, sem, no entanto, ficarem presas aos padrões impostos, que consigam alçar seus vôos em liberdade e segurança. Sem serem taxadas de menos do que realmente são, passarinhos livres para construir seu próprio caminho pelo imenso mundo que gira, que não pode ser contido ou medicalizado, mas segue seu caminho pelo passar das horas e dos tempos, transformando crianças e adolescentes passarinhos em adultos livres.
ALA 4 – OS DESALIENISTAS DA RESISTÊNCIA

Em 1881 o escritor brasileiro Machado de Assis publica o livro “O Alienista”. Tal livro nos conta uma pequena história de um médico que prende no hospício “Casa Verde” a maioria da população da pequena cidade de Itaguaí. Todas as falas e atitudes do doutor Simão Bacamarte eram completamente guiadas pelos valores da ciência e da razão. Assim, o Alienista do nosso grande escritor, decidido a estudar profundamente a loucura, começa a trancar no hospício “Casa Verde” todas as pessoas que não se enquadravam dentro da dita normalidade. No entanto, o parâmetro de “normalidade” do Doutor Simão Bacamarte, era totalmente sem sentido. Os diagnósticos do médico, bem como sua conduta causam espanto, medo e repúdio na cidade de Itaguaí uma vez que até os cidadãos mais estimados da cidade acabam trancados na Casa verde.
Cansados de tanto autoritarismo, esses cidadãos decidem fazer uma revolta para frear os abusos do doutor que ainda consegue reverter a situação em seu favor e convencê-los, através de sua fala sempre complexa e apoiada em conceitos e teorias científicos, de que estava correto. Quando Simão bacamarte percebe que a maior parte da cidade se encontrava internada no hospício Casa Verde, ele tranca a si mesmo para reunir em sua pessoa a teoria e prática nos estudos da loucura.
Machado de Assis ao escrever esse livro faz uma tripla reflexão em que questiona os valores científicos do século passado que chegaram no Brasil sem nenhuma crítica, ironiza a fala dos cientistas que, por vezes apenas repetem teorias e conceitos e critica o desconhecimento da população diante da ciência e da loucura. O alienista de Machado de Assis é, portanto, um alienado, pois se deixou ofuscar pelas luzes do seu tempo. Os
homens da ciência adotaram, muitas vezes, posturas exageradamente científicas, mas também demasiadamente desumanas. A história nos mostra que em nome da ciência e da razão a humanidade produziu grande atrocidades como os experimentos com bebês nos campos de concentração alemães durante o nazismo e as bombas químicas nas Guerras do Vietnã. No Brasil, a racionalidade e a ciência também geraram tristes eventos que nos fazem envergonhar. A Casa de Verde de Machado de Assis foi materializada nos diversos manicômios que retiraram e ainda retiram a liberdade de milhões de brasileiros ao longo da nossa história. O Hospital Colônia, em Barbacena, a clínica Serra Verde de Belo Horizonte e a Casa de Saúde Doutor Eiras em Paracambi, no Rio de Janeiro são apenas de alguns exemplos de uma ciência desumana, arbitrária e assassina, cujos alienistas baseavam-se nos pressupostos autoritários da razão.
No entanto, se por um lado houveram muitos alienistas mergulhados na teoria de que trancar era a suposta solução para a loucura houveram, por outro lado, muitos desalienistas que praticando uma resistência ora silenciosa e ora ruidosa, construíram pouco a pouco a liberdade que tanto nos orgulha hoje. Não foram apenas Franco Basaglia, Marcus Vinicius Oliveira Silva, Nise da Silveira que sonharam com a liberdade, mas milhares de mulheres e homens anônimos que, de modo tácito, forçaram as grades do manicômio para que hoje possamos ter uma política de saúde mental baseada na liberdade e na dignidade do cidadão com sofrimento mental. Os serviços como CAPs, Centros de Convivência, Consultório de Rua, SRTs, não nos lembram da Casa Verde de Simão Bacamarte, mas nos projetam em direção à delicadeza, beleza e alegria.
Porém, vemos nesse início de século que os alienistas batem à porta com novas roupas e novos discursos. O novo coordenador nacional de saúde mental é um desses alienistas que apenas repetem teorias, financiam novas Casas Verdes e desconsideram a autonomia do cidadão com sofrimento mental no seu tratamento. Resistir é preciso! Não mais aceitaremos falas, atitudes e condutas manicomiais na saúde. Nenhum passo atrás. Assim como a pequena cidade de Itaguaí se revoltou contra o Alienista e sua Casa Verde, nossa cidade também se organiza para resistir contra as atrocidades da ciência e sua arbitrariedade. Mas, como nossa história não é fruto de uma ficção, não nos deixemos seduzir pelas falas rebuscadas da razão. A história dos desalienistas de ontem nos inspiram para a reação de hoje. Os desalienistas do século XXI estão há mais de 90 dias no Ministério da Saúde numa sala pequena e mal iluminada para que a palavra liberdade não seja apenas uma utopia. Os desalienistas de hoje (usuários e trabalhadores) fecharam o anexo do hospital Sofia Feldman no dia 01-03-2016, dando fim a mais um vestígio de manicômio em Belo Horizonte. Os desalienistas do nosso tempo estão nos serviços tecendo cotidianamente uma política alicerçada no cuidado. Nós, os desalienistas da resistência faremos, no Dia da Luta antimanicomial, um carnaval louco e livre!

ALA 5 : MAIS SERVIÇOS PRA VOAR, MENOS GRADES PRA TRANCAR

Frente aos assombros dos gradis que ameaçam a liberdade dos usuários somos convocados a esticar a rede. Diante das complexidades das cenas de uso de drogas e das trajetórias de vida e invisibilidade dos usuários marcados por uma sucessão de violências e abandonos, precisamos de uma rede que balance e suporte o ir e vir, capturando os fios dos desejos de tantos que dançam e sofrem e cantam a liberdade das ruas, nos serviços, nos sonhos e no futuro.


ALA 6: DOM QUIXOTE DE LOS ERRANTES
O desejo latente de Chapulin Colorado: “E agora, quem poderá nos defender?” é evocado pela ala dos super-heróis no desfile do 18 de maio de 2016. Passado como passarinhos em outrora, nas comemorações da luta antimanicomial, a batalha de anos do idealizador Juliano “Batman” se desplatoniza e vira realidade-fantástica: “Todo mundo gosta de heróis! E em tempos de crise, o Brasil precisava de vários heróis” PRESENTES. Ocupando, valente(mente) a cidade, a realidade e a imagem de nossa ação no 18 de maio desse ano.
O brado retumbante de Juliano vem sustentado pela clava forte de seu Capitão Brasil e sua Pátria Amada, e claro o Batman, Jesus Cristo, dentre o vasto imaginário de heróis que nos rodeia, Super-homens, Mulheres Maravilhas, arquétipos e deidades que cumprem animada(mente) o papel simbólico e performático de nossa luta. Nesse exército se juntam heróis de várias vertentes, desde emblemáticas figuras das histórias em quadrinhos, passando pelos conhecidos “loucos” da história, Vicent Van Gogh, Francisco Goya, Camille Claudel, Antonin Artaud, Bispo do Rosário, Estamira e os usuários dos serviços, como o Homem Verde do Barreiro. A outros heróis da rede, trabalhadores que passaram, como Cezar Campos e Marcus Matraga e os passarinhos do cotidiano, como os técnicos de enfermagem, psicólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatras, assistentes sociais, os monitores. Junto aos grandes pensadores Michael Foucault, Sigmund Freud, Franco Basaglia, Nise da Silveira... Dom Quixote! O grande louco da literatura, que fez de seus delírios, derivados de uma experiência estética, uma romântica e heróica errância, em SER ERRANTE na convivência corajosa de tornar sua fantasia uma realidade. Totem poético de nossos enfrentamentos e aflições, desventuras e VALENTES aventuras, errantes na luta contra os erros que violam nossa liberdade. Diante de coringas que assombram nossa sociedade, inimigos no poder, fantasmas de Gotan, Brasília e Belo Horizonte's Cities.“NOSSOS HERÓIS NÃO VÃO MORRER DE OVER-DOSE! Queremos essa IDEOLOGIA para viver”.

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